Pular para o conteúdo principal

Sobre caçar

Não sabia o que era. Seria a flor que carregava no peito? A sensação de que o mundo nada diria? a sensação de que a vida era isso aí? E a verdade é que é mesmo?
Arco e alijava.
Saiu, caçou. Olhos negros, como os animais mais doces. O veneno?
Ela levou. Não precisava de mais peçonha do que a que habitava no próprio peito.
Paralisou, brincando, indo e vindo.
Caçar é entender a presa.
É fácil - pensou.
Mas a verdade é que poucos caçavam, aquela hora, aquele dia.
Talvez fosse simples pela falta de disputa -  não pensava em disputas, entretanto,  não aquela hora.
A presa olhou... Com reconhecimento? Ou talvez apenas apego pelos passos da caçada?
Olhou seus olhos, pintados,  de negro, também.
Ela invejava os olhos negros, como os da presa.
O acordo, tácito. Ele se deixaria pegar?
Ela recuou.
Não assuste a presa.
Mas houve o passo a frente, no momento exato.
Como uma dança.
Aprisionar os olhos, recuar, aprisionar de novo, recuar. Ela mantinha as frases na mente. Estava nervosa, um pouquinho só. E tonta. Não contente com o veneno que lhe era natural, tinha tomado mais, e rápido. Como os desesperados.
Só para o mundo desfocar, pensou.
Só para brincar de leve nos lábios.
Ela ria por dentro. Ria, para calar as lágrimas, lados de uma moeda bizarra.
E flechou no acordo tácito.
Certeira.
No fim correu, sem olhar para trás.

Arranhava
A palavra, a palavra, a palavra...
garganta
coração
morte ou gozo?

Caçar ou fugir?
Caçar e fugir?
Caçar é fugir!
A palavra, a palavra, a palavra
uma única
verbo
criado
de- ses- pero.
des - esperar.

Tinha dado certo, mas ao mesmo tempo foi como se tivesse perdido.

Comentários

  1. Pensei nos falcões Verrin quando li sobre caça.
    E suas iscas rodopiando pelo céu.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

frio de inverno

Chegamos no fim. No fim. No fim. Como um filme, o fim sempre esteve lá. A espreita. Mas enquanto um de nós corria, com a fome dos devoradores, daqueles, que olham para as migalhas sem remorso e nem saudades, o outro nem andava. Não ousava ao menos respirar. Se respirasse, talvez, por Deus... a verdade, é que se respirasse, talvez doesse. Recebia afagos como um cão. Aquele, que agradece as migalhas... Devia ter mordido os calcanhares. Chegamos no fim. E como na fita tediosa, não há, realmente história a ser contada. Conto de números primos. Não se dividem a não ser por si mesmos. Quando eu digo que conheço muitas pessoas legais, aí está: o oftalmo montou esse texto comigo, enquanto medíamos a pressão do meu olho. (Ele media, na verdade. Nós tagarelávamos. E eu tomei liberdades poéticas na história que contamos)

lembrar

Nas madrugadas em que era meu durava o dia inteiro mas era leve como o amor tem que ser aceitação e o preço, agora é o vazio da saudades. Pagarei, sem muito lamento mas perco o sono, toda vez.

poucas palavras

Se eu tivesse um só pedido... queria não ser egoista nunca mais. Nem mesmo um pouquinho. Quem sabe assim ganhasse o que desejo de verdade. O que não se escreve e nem se diz. Update: Eu devia bater em minha mão quando escrevo triste de madrugada. Nada que se ganha funciona. A gente conquista. Quero voltar a ser a pirata que carrega espadas nos contos de meu amigo bardo.